Doces lembranças

Amigas Poderosas,

Uma das coisas mais gostosas da vida é comer. Nunca fui cozinheira e nem gosto muito de cozinhar, mas aprendi que as refeições unem a família, os amigos, celebram a vida, comemoram vitórias, fortalecem laços. Hoje, aos 50 anos, curto muito os domingos com minha família. Meu marido cozinha (e cozinha muito bem), eu lavo a louça, pico os ingredientes, tomo vinho na mesma taça em que ele, conversamos com os filhos e as noras de forma descontraída, enfim temperamos com amor laços sólidos.

Pequenos rituais semanais que se tornarão no futuro doces lembranças, como as que guardo de meu sogro, já falecido. Ele fazia parte desse ritual dominical e tinha toda uma técnica especial para fazer o arroz (ficava delicioso, soltinho). Lembro-me dele, lavando o arroz e colocando-o ao sol para secar. Em seguida, ele fritava o arroz até que ele todos os grãos ficassem soltos. Só aí ele colocava o sal e o alho. A água era medida milimetricamente e tinha que estar quente. O final do cozimento também tinha sua técnica. Ele molhava a mão em água e passava do lado de fora da panela, se fizesse determinado som, estava bom, mas a panela não poderia ser aberta ainda. O resultado era um arroz de comer rezando. Durante esse processo,   eu, ele e meu marido, preparávamos o almoço, tudo temperado com risos e conversas. De vez em quando eu colocava uma música e a cantava com minha voz desafinadíssima. Ele brincando perguntava se eu estava com dor de barriga. Eu ria e continuava cantando para desespero deles.

São lembranças assim que quer deixar para meus filhos. Gestos simples e corriqueiros, mas que demonstram todo o amor que tenho por eles.